Bárbara Rua, Coordenadora de Operações
É, de fato, alarmante o cenário global atual em relação às mudanças climáticas. Questões tão significativas como essa demandam numerosas e diversas iniciativas em conformidade com o combate às suas causas. O Acordo de Paris representa um marco que alerta para a necessidade de soluções sustentáveis em uma escala e intensidade maiores, sendo as Soluções Naturais o antídoto mais eficaz para a crise climática.
As Soluções Baseadas na Natureza, ou Nature-based Solutions (NBS), é um conceito definido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) que orienta ações de gerenciamento, proteção e restauração de ecossistemas naturais, levando em consideração a biodiversidade e o bem-estar humano, e inclui o conceito de práticas de gestão inteligente da terra para reduzir ou eliminar as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Em outras palavras, a gestão do uso da terra e das florestas se mostram as soluções mais eficazes e apropriadas para o Brasil, um país de dimensões continentais, onde a maior parte de seu território é composta por florestas.
Reduzir as emissões que poderiam ser causadas pelo desmatamento ou degradação florestal é uma das principais prioridades dessa agenda, e a resposta está no manejo florestal responsável. Agregar valor a uma floresta à medida que ela gera riquezas por meio da produção de madeira, produtos não madeireiros e créditos de carbono, todos adicionais, é a única maneira de garantir a conservação e proteção de seu estado, mantendo seus estoques de carbono, biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos. Sem demagogia, uma floresta preservada precisa gerar receita para evitar que seu uso da terra seja substituído por atividades lucrativas.
Os estoques de carbono florestal estão continuamente sob risco de degradação ou conversão, especialmente devido às flutuações frequentes no mercado de madeira e nas transações de terras, amplamente motivadas pela madeira e pelo valor alternativo de uso da terra. Os projetos de carbono florestal eliminam esses riscos com relatórios de monitoramento garantidos e verificação por um período de 100 anos ou mais. O resultado a longo prazo desses projetos serão florestas maiores, mais antigas e mais resilientes, muitas das quais com maior produtividade.
Atividades de manejo florestal que resultam no aumento dos estoques de carbono nas florestas e/ou na redução das emissões de gases de efeito estufa, quando comparadas a práticas de manejo florestal convencionais, permitem o desenvolvimento de projetos de carbono do tipo IFM (Improved Forest Management), uma modalidade de REDD+ que leva em consideração boas práticas de manejo florestal.
As florestas desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas, absorvendo aproximadamente 12% das emissões anuais de carbono em todo o mundo. Os projetos de IFM podem aumentar os estoques líquidos de carbono ou reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) por meio de mudanças nas práticas de manejo florestal existentes, ou “business as usual”. Os projetos IFM possibilitam a transição das florestas para um estado sustentável, tornando-as mais resilientes aos impactos das mudanças climáticas.
As atividades de manejo florestal que se enquadram nessa categoria incluem o plantio de enriquecimento; a liberação da regeneração natural por meio do manejo da vegetação concorrente, irrigação e/ou fertilização; a redução dos níveis de colheita de madeira; o adiamento da colheita em rotações ou ciclos de corte; a designação de reservas, entre outras.
Os créditos IFM (Improved Forest Management) apresentam um grande potencial para o setor florestal regional, já que podem gerar renda para as florestas públicas e privadas, aumentando o interesse econômico na implementação de atividades de manejo florestal sustentável.
Metodologias que facilitem a definição e transferência de créditos de carbono gerados pelo IFM (principalmente por meio do aumento do estoque de carbono) são de grande interesse em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, no contexto da mitigação das mudanças climáticas.
É relevante salientar que as políticas públicas voltadas para a conservação das florestas brasileiras, como as concessões florestais orientadas pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor-Bio) e o Serviço Florestal Brasileiro, estão alinhadas com estas oportunidades. Além disso, as certificações florestais FSC Brasil (Forest Stewardship Council®) e PEFC International (Programme for the Endorsement of Forest Certification) possuem princípios e critérios que direcionam as boas práticas no manejo florestal, as quais também são sinérgicas.